ZEN DICAS & MUSICAIS

CIRCULO ZEN,

Sejam bem vindos ao ZEN DICAS & MUSICAIS.


Apresentamos teorias, informações, previsões, profecias e idéias que devem ser vistas apenas como caráter especulativo. Não queremos doutrinar, afirmar ou convencer ninguém..

Tento colocar um pouquinho de cada coisa que gosto de estudar. São assuntos diversos muitas vezes que nem sei de onde peguei, mas são temas aos quais me identifico. Se o autor de algum texto deparar com ele escrito aqui, não se irrite, ao contrário, lisonjeie-se em saber que alguém admira seu pensamento.

Não há religião superior à verdade, o importante é a nossa convivência de respeito mútuo e amizade, sempre pautados na humildade, no perdão e na soliedaridade.

Autoconhecimento, Filosofia, Espiritualidade, Literatura, Saúde, Culinária, Variedades..

Tudo isso acompanhado de uma Zen Trilha Sonora com muito Alto Astral.



“Citarei a verdade onde a encontrar”.
(Richard Bach)


ZEN DICAS & MUSICAIS.
VIVA O AGORA !
NAMASTÊ.

NUNCA PERCA A CURIOSIDADE SOBRE O SAGRADO!

Albert Einstein

circulo zen

4.10.08

TEOSOFIA, SABER LIBERTADOR


TEOSOFIA, SABER LIBERTADOR

Existe sempre um risco para aqueles que se interessam por assuntos teosóficos ou espirituais, por natureza vastos e abrangentes e que abarcam áreas tais como a metafísica, a psicologia, a filosofia, até mesmo aspectos da cosmologia e da antropologia, de não perceberem qual é a essência do ensinamento. Quando falo do ensinamento teosófico não me refiro aos ensinamentos da Sociedade Teosófica (S.T.), porque a Sociedade como um agrupamento de pessoas não possui ensinamento especial, muito menos uma doutrina oficial.

A Teosofia é descrita como sendo a Sabedoria Divina que está presente no coração de todas as religiões, de todas as culturas, de todas as filosofias. Portanto, não é um patrimônio da S.T., mas, quando se fala de ensinamento teosófico, referimo-nos ao ensinamento universal que responde, pelo menos em parte, às três perguntas fundamentais acerca da nossa origem, do nosso futuro, enquanto seres humanos, e do significado da nossa existência aqui e agora. A Teosofia é uma filosofia eterna, uma visão ampla do processo evolutivo no qual estão imersos não apenas todos os seres humanos mas todas as formas de vida e todos os inumeráveis mundos que habitam este nosso Universo. A Teosofia lança luz sobre todos esses processos.

Em urna obra como A Doutrina Secreta, vemos a descrição do despertar do Cosmos, o seu progressivo desabrochar através das suas várias etapas até o surgimento da vida sobre o planeta Terra. No volume da Antropogênese de A Doutrina Secreta, encontramos o surgir da vida humana, os primórdios da evolução da vida humana através de vários estágios até o atual.

PERIGOS DO SABER

Ora, corno esse panorama evolutivo é vasto e como o ensinamento teosófico é igualmente vasto e amplo, muitas vezes corre-se o risco de o estudante perder de vista o que é fundamental e essencial no estudo teosófico, porque, como já foi dito, o estudo teosófico não é apresentado ou colocado à disposição das pessoas para mero deleite pessoal. Aquele que conhece mais do que o seu semelhante, contrai uma responsabilidade ética por esses conhecimentos. Uma pessoa que não sabe, por exemplo, a natureza do poder do pensamento, não tem a mesma responsabilidade quando emite pensamentos de ódio, de ira, de ciúme, do que uma pessoa que estudou e sabe o poder que a energia do pensamento exerce sobre os nossos semelhantes, sobre outras formas de vida.

O conhecimento traz responsabilidade. Aliás, no mundo de hoje, em todas as áreas da atividade humana, emerge uma discussão insistente e urgente sobre a ética — na Medicina, na Política, na Economia, no Comércio. A própria Ecologia, que nos últimos anos experimentou um avanço imenso no despertar das consciências, traz no seu seio a preocupação da ética planetária, da nossa responsabilidade para com o planeta. Assim, o estudo teosófico obriga-nos a tomar, de um modo progressivo, consciência da nossa responsabilidade perante a vida, ou seja, perante os nossos familiares, perante o ambiente que nos cerca e perante o mundo como um todo. Isto é importante. Por quê? A Teosofia, quando corretamente compreendida, ou seja, não apenas como um conhecimento intelectual, não apenas como uma exposição ampla, abrangente dos processos da vida, leva-nos a uma nova visão da vida e, conseqüentemente, a um novo tipo de conduta. Isto é tão certo quanto o amanhecer em cada dia. Ninguém estuda Teosofia impunemente. A consciência da pessoa foi alargada pelos estudos teosóficos e isto traz consigo responsabilidades. Responsabilidades que não são impostas por ninguém, mas por ter a consciência, ao despertar, alargado a sua compreensão. E, portanto, não seria exagero dizer, na minha maneira de ver o assunto, que a essência da compreensão teosófica é aprender como viver no presente, aprender como responder aos desafios do presente, aprender a extrair lições significativas no momento presente e o valor de cada relacionamento, de cada contato.

TEÓSOFO, SABER DE EXPERIÊNCIA PRÓPRIA

HPB afirmou que o teósofo não é necessariamente um membro da Sociedade Teosófica. Lawrence Bendit, ilustre teósofo inglês já falecido, declarou, durante uma convenção da S.T. na Inglaterra, que esta abre suas portas aos teósofos, o que significa um reconhecimento implícito de que existem milhares e milhares de pessoas que estão buscando essa forma de vida que a Teosofia, como sabedoria de vida, como visão global da existencia, apresenta. Assim, compreender a Teosofia é assimilar os seus ensinamentos por nós mesmos, não significa ler um livro e aceitar as idéias do autor. Quando uma pessoa lê e aceita as idéias do autor, tem uma mente que não é muito diferente de uma esponja. Ela absorve conhecimentos que para a pessoa se tornam conhecimentos de segunda mão, porque não empreendeu nenhum trabalho na sua reflexão. O Senhor Buddha foi um dos maiores instrutores espirituais que a humanidade produziu. Segundo o ensinamento teosófico, foi o primeiro ser humano que alcançou um estado de completa iluminação.

O Senhor Buddha, chamado Mestre dos Mestres, é filho desta humanidade. Ele teria dito o seguinte: "Não aceitem uma verdade porque a tradição disse que é verdade, porque os sábios dizem que é verdade ou porque eu digo que é verdade. Só deveis aceitar alguma coisa como verdade, quando ela tiver passado pelo crivo do vosso próprio raciocínio. Só então isso é verdade para vós".

Existe uma diferença profunda entre os princípios, premissas e fundamentos que compõern a literatura teosófica e a Verdade. Sri Shankaracharya, um dos maiores mestres da Índia, um dos grandes expoentes da filosofia Vedanta, afirmou: "A beleza da Lua deve ser vista com os nossos próprios olhos; ninguém pode vê-la por nós". E disse também: "Quando estamos doentes, precisamos tomar um medicamento; não adianta outro tomá-lo por nós. Somos nós que precisamos tomar esse medicamento". Portanto, a Teosofia só deixa de ser um ensinamento intelectual e teórico para passar a ser sabedoria, quando assimilamos e refletimos repetida e profundamente sobre essas verdades teosóficas, que são verdades para aqueles que as experimentaram.

A UNIDADE ESSENCIAL: HOLISMO

A verdade da unidade da Vida forma a pedra angular de todo o ensinamento teosófico. A verdade acerca da absoluta indivisibilidade da Vida é um preceito fundamental de todas as posições teosóficas. Mas só passa a ser verdade para nós quando a experimentarmos, mesmo que de um modo parcial. A percepção de que tudo na Natureza está integrado, de que existe uma harmonia subjacente a todas as coisas, de que existe ritmo, ordem, simetria, proporção, graça na Natureza, é o prenúncio de uma experiência mais profunda da unidade. A harmonia da Natureza é, por assim dizer, o cântico da unidade da Vida. A unidade que é, para sempre, indescritível.

Os místicos de todas as idades e de todas as culturas são unânimes ao afirmar que a experiência da indivisibilidade da vida, da unidade da vida é intraduzível, é incomunicável. É por isso que muitos deles utilizam metáforas e paradoxos. Meister Eckhart, um dos maiores místicos cristãos, que viveu no século XIII na Alemanha, monge dominicano, afirmou: "o olho pelo qual vejo Deus é o mesmo pelo qual Deus me vê". Ora, ele teve problemas com a Inquisição porque os inquisidores quiseram saber de onde tirara uma afirmação dessas. E esta afirmação descreve o estado de profunda unidade, porque não existe uma separação entre o homem que vê e Deus que vê, ou seja, o olho, que é o mesmo, significa o estado de perfeita comunhão com o Divino.

Um outro místico afirmou que contemplamos aquilo que somos e somos aquilo que contemplamos. Tudo isto reforça o fato de que precisamos empreender os nossos estudos de uma maneira prática, precisamos, como disse a tradição cristã, dar o nosso próprio testemunho.

A VERDADE E O BEM EXISTEM EM NÓS

CAUSAS DE BLOQUEIO

Não é suficiente conhecer mais, embora isso possa ser bom e útil, mas viver aquilo que se conhece é melhor e mais útil. O livrinho "Aos Pés do Mestre", pequeno em extensão mas enorme em conteúdo, apresenta, de uma maneira simples, os preceitos da ética teosófica, ou seja, uma vida pautada pelo altruísmo, pela consideração pelos nossos semelhantes, pelo discernimento, pelo desapego em relação às coisas que não são essenciais, ensinamentos estes que preparam uma pessoa para uma experiência de comunhão mais profunda, que nos preparam para uma experiência de contato com a Verdade que está oculta dentro de nós. A verdade não está distante de nós. Buscar a Verdade não significa seguir uma direção externa. Buscar a Verdade é eliminar os obstáculos internos, que existem dentro de nós, para que a Verdade brilhe. O próprio Shankaracharya disse que no mundo existem diferentes potes de argila, decorados de formas diversas, com cores diversas, com tamanhos e formas diversos, mas todos eles são essencialmente argila. Esta percepção da unidade da vida, da inter-relação de todas as vidas e de todos os fenômenos, de todos os seres, é a experiência do presente.

No livro "Espaço, Tempo e Medicina", alude-se ao diagnóstico de uma nova doença, chamada de a doença da pressa. É a continua preocupação com o tempo, com o relógio. Essa doença causa tensão, pressão alta, problemas cardíacos e até mesmo cancer. Se tivéssemos de definir a nossa civilização atual, poderíamos dizer que ela é a civilização da pressa e do barulho. Os seres humanos produzem um barulho ensurdecedor. O barulho que a civilização humana produz é tão grande, e estamos de tal modo acostumados a ele, que, quando vamos para o campo, o silêncio agride os nossos ouvidos. Onde existe um grupo de seres humanos, existe barulho. Ora esse barulho não é apenas o barulho externo. Mesmo quando não estamos falando nada, existe um barulho interno, existe a ruminação constante do pensamento, das lembranças, da memória. O corpo pode descansar, mas observado mais atentamente, o que se verifica de fato é que ele, na verdade não descansa. Uma parte do corpo descansa, os músculos talvez, mas o cérebro continua com uma atividade incessante. Se observarmos o comportamento de uma pessoa que dorme, as suas pálpebras movem-se, o seu corpo contorce-se; isto significa uma atividade cerebral que continua mesmo durante o sono.

A civilização atual criou formas de lazer que são destrutivas e violentas, desportos que envolvem alto risco de vida, como o automobilismo, o boxe e tantos outros. Existem modos de lazer que são violentos, embora não tenham uma violência explícita, como o boxe, mas uma violência sensorial. Hoje em dia, é muito comum vermos pessoas na sexta-feira à tardinha, depois do expediente, passarem por uma vídeo-locadora e levarem 10 vídeos para consumirem no seu tempo de lazer no fim-de-semana, sempre consumindo imagens, sensações, imagens, sons, imagens. O que hoje se chama de lazer é a progressiva e absoluta supressão de todo e qualquer espaço de reflexão. Perdemos a capacidade de nos sentarmos e contemplar. Uma das escolas da tradição espiritual — o Zen — é definida por alguns autores como a arte de estar sentado. Não pensar em técnicas mirabolantes de meditação, mas simplesmente alcançar um estado de completo repouso do corpo, dos sentidos e da mente, para que o indivíduo possa ver o instante, ver o presente, lançar um olhar despreocupado e desinteressado sobre o presente e, portanto, captar o significado do presente, que, em última análise, leva á experiência da unidade.

Ora, tudo isso evidencia uma condição da mente. Da mesma forma, os vícios, o alcoolismo, as drogas, as diversas e inúmeras formas de perversão que os seres humanos desenvolveram, mostram claramente uma inabilidade congênita de viver o momento presente. Só uma pessoa que é incapaz de aceitar o momento presente, tal como ele é, vai procurar as inúmeras formas de barulho, tanto explícito como implícito.

Um autor americano ilustrou essa incapacidade de viver o momento presente. A imagem que ele criou foi a seguinte: vê-se um homem sentado na sua cadeira predileta, a assistir o seu filme predileto, comendo bolachas e tomando leite. Este é o quadro que ele cria. De repente acaba-se o leite, e este é importante porque completa este quadro de desfrute sensorial. Não basta a melhor poltrona, o melhor filme, ele quer beber leite com bolachas. Só assim o ritual se completa. Então, ele sai de casa e vai ao supermercado que fica a cinco minutos da sua casa. Vai lá e volta. Nessa ida ao supermercado, passa por pessoas, animais, árvores, plantas, arbustos, prédios, pássaros, o céu azul. Se o movimento dos corpos, com os quais se cruza, tivesse de ser descrito em linguagem matemática, ocuparia pilhas de papel. No entanto. se alguém perguntar, quando ele chega em casa, o que aconteceu, ele dirá: "nada, não aconteceu nada, só fui ao supermercado e voltei", ou seja, a consciência está tão escravizada por esta ânsia de gratificação sensorial que se torna sonâmbula para a realidade. Ela não percebe a realidade. Esta torna-se um vulto no panorama da vida. Não existe clareza de percepção, o que significa que a consciência fica aprisionada em atos mentais mecânicos e irrefletidos. Cada vez que o indivíduo senta-se na sua poltrona para ver o seu melhor filme, a comer bolachas com leite, reforça esse hábito, esse sulco mental. Não estou dizendo que não seja bom estar sentado na poltrona. assistir à televisão e comer bolachas com leite. Isto é só um exemplo, não me entendam mal. Também gosto de comer fruta de vez em quando e quase sempre a mesma hora. É apenas um exemplo para mostrar como a consciência se aprisiona a esses atos mecânicos. Isso envolve uma inconsciência comportamental que é nutrida, que e alimentada pela desatenção. Somos capazes de passar por pessoas conhecidas sem as cumprimentar. Não necessariamente porque não gostemos dessas pessoas, mas porque estamos tão ocupados conosco mesmos que esquecemos.

Um autor inglês, membro da S.T., afirmou que, infelizmente, gastamos a maior parte das nossas vidas justificando-as ao invés de vivê-las. E viver a vida significa estar disponível para as experiências, assimilá-las, aceitar aquilo que nos acontece e não meramente justificar dizendo que agimos certo ou errado. Tudo isto mostra que aquilo a que chamamos tempo é, na verdade, uma criação psicológica.

A Doutrina Secreta afirma que o tempo é uma ilusão criada pela sucessão dos nossos estados de consciência à medida que viajamos através da duração eterna, o que significa que, no mundo da natureza, no mundo das coisas que são, nesse mundo que está livre dessa experiência psicológica que é inerente à experiência humana, nesse mundo não existe a fragmentação do tempo. O tempo é duração, ou seja, é uma pura expansão.

Os animais são felizes porque se contentam em viver o momento presente. E é muito interessante notar que determinados animais passam a sofrer de depressão devido ao convívio com os seres humanos, porque é fácil, pela proximidade, assimilar determinados padrões. Mas um animal deixado no seu habitat próprio é feliz. Está contente por procurar o seu próprio alimento, por correr, por brincar, e dessa forma desfruta dessa felicidade inerente. Claro que nele não existe de forma ativa o princípio mental; este existe nele de forma potencial. E é o princípio mental, com todas as complicações que traz, quando se vincula ao princípio do desejo, quando se vincula às atividades da memória, que cria um ser humano muito complicado, cheio de exigências. O ser humano cria, entre ele e um outro semelhante e entre ele e o mundo, a figura do "se". Aceito Fulano se ele me aceitar. Faço isso se tudo estiver de acordo com estas condições.

SIGNIFICADO DO ESPAÇO-TEMPO

O tempo tem uma natureza psicológica — o tempo como passado, presente e futuro. Na verdade, o passado, o presente e o futuro são construídos pelos conteúdos das idéias da nossa consciência. Fragmentamos a experiência porque não conseguimos assimilá-la tal como é, depositamos a experiência no porão do passado e extraímos desse porão, desse depósito da memória, lembranças, pensamentos, idéias, motivações. Até mesmo as nossas expectativas em relação ao futuro, se forem examinadas detidamente, não são sobre o futuro em si, mas retiradas da memória. Ou seja, conheço uma pessoa ou uma situação; tive uma experiência. Se ela foi agradável, o seu registro agradável está depositado na memória; essa experiência passa e esqueço-a de momento. Se alguma das circunstâncias presentes naquela experiência voltar a se repetir, imediatamente, automaticamente, a memória evoca essa experiência, ou evoca o desejo de repetir essa experiência.

A ciência de hoje reconhece que espaço e tempo não são grandezas diferenciadas, distintas. Após o enunciado da Teoria da Relatividade, por Einstein, sabe-se que vivemos num contínuo espaço-tempo. Não há espaço sem tempo, nem tempo sem espaço. É um contínuo fluir. São grandezas inter-cambiantes, inter-relacionadas e, portanto, se na nossa experiência existe esta fragmentação de passado, presente e futuro isto apenas quer dizer que a nossa consciência está fragmentada. Existe um elemento da consciência humana que fragmenta esse fluir porque essa fragmentação só existe na experiência humana. Não existe na experiência dos outros reinos da natureza. É claro que os animais também agem por instinto, também têm memória. Por exemplo, um animal que é agredido, guarda a impressão dessa agressão, mas, quando essa experiência passa, segue a sua vida normalmente: vai voar, vai brincar, vai buscar o seu alimento, O que acontece com o ser humano que é agredido? Não digo fisicamente, mas verbalmente. Talvez passe dias recompondo-se dessa agressão. Vejam como a mente humana deita raízes profundas na consciência. Distorce-a, limita-a, condiciona-a. Qual é o papel da memória no processo? A memória é, na verdade, de natureza material. É o substrato onde estão depositadas todas as nossas lembranças, todos os acontecimentos; é a base, a substância que dá origem ao pensamento. Se não tivéssemos memória não pensaríamos. O pensamento pode ser definido como uma reação da memória. Um exemplo: vi uma caneta muito bonita numa vitrine. Fiquei muito impressionado com ela e tive desejo de a possuir, Se for visitar um amigo e, por acaso, estiver sobre a sua escrivaninha uma caneta igual, o desejo de a possuir, não a do meu amigo, claro, mas a outra, vai apresentar-se de novo automaticamente. Não é preciso pensar nisso. É uma reação automática.

O MENTAL: ESCRAVIZANTE E SEPARATISTA

Houve um diretor francês de cinema, chamado Alain Resnais, que na década de 70 fez um filme muito interessante sobre o comportamento humano: O Meu Tio da América. Era um estudo profundo sobre o comportamento humano. Teve, inclusive, como consultor, um grande psicólogo e comportamentalista. O filme descreve várias situações labirínticas em que os seres humanos se metem: relacionamentos interpessoais problemáticos, ódios, desavença, perversão, ciúme. No final um determinado ator diz: "O que vimos durante este filme foi o modo como o cérebro humano funciona".

Se não conseguirmos descobrir uma nova maneira de funcionamento do cérebro humano, a civilização humana estará condenada ao extermínio, porque significa perpetuar a divisão, a separação, o conflito, a suspeita. Assim, a memória tem um papel vital no comportamento das pessoas. A mente humana, num dos seus aspectos, funciona através da atração e da repulsão. No livro As Cartas dos Mahatmas a A. P. Sinnett, que descreve a correspondência que dois eminentes membros da S. T. da Índia tiveram com os Instrutores de H.P.B., diz-se que o amor e o ódio são os dois únicos sentimentos imortais. Poderiamos dizer: como se pode atribuir imortalidade ao ódio? Pergunto: o que acontece na Irlanda do Norte, onde gerações e gerações de pessoas nascem com a plena disposição de considerar o católico como inimigo e este considerar o protestante também como um inimigo? O que acontece no Oriente Medio entre árabes e judeus? O que está acontecendo agora na Europa em relação aos imigrantes, em que partidos políticos crescem em votação com um discurso xenófobo em relação às pessoas vindas de outros paises? Isto é, na verdade, a perpetuação do ódio como sentimento básico da alma humana. De fato, a alma humana só tem duas emoções básicas: o amor e o ódio.

Existe uma série de emoções que se ramificam do lado do amor; e outras que se ramificam do lado do ódio. As emoções do lado do ódio sempre causam separacao. A inveja, o ciúme, a suspeita, a má-vontade, tudo isso está enraizado no sentimento básico de ódio. A compreensão, a humildade, a generosidade estão enraizadas no sentimento básico de amor. Um autor que pesquisou isto, disse: "às vezes as pessoas acham que uma boa ação ou uma ação altruísta deve ser uma ação dramática e teatral de renúncia em relacao aos demais. Contudo, a pequena ação de urbanidade, de cortesia, por exemplo, numa fila ou em algum outro lugar, essas pequenas ações de civilidade ajudam a lubrificar as engrenagens da vida. Esta fica mais fácil, se soubermos expressar na nossa vida ações de simpatia e de compreensão".

Radha Burnier, a nossa atual presidente, disse que a palavra compaixão é muito grande para nós: a compaixão semelhante à do Buddha, uma compaixão ilimitada por todos os seres sencientes. Diz-se que para todo o indivíduo que segue o caminho budista, a aspiração principal não é alcançar a iluminação, não é alcançar o poder, não é alcançar a sabedoria. A sua aspiração fundamental é alcançar um estado de compaixão e benevolência para com todos os seres.

A MEMÓRIA E O PENSAMENTO

CAUSAS DE ESCRAVIDÃO

Vejamos como a memória é a fonte de pensamento e impede-nos de encararmos as coisas como se fosse pela primeira vez. Ora, examinada mais atentamente, vemos que a memória, sendo a fonte do pensamento, provoca uma continua acumulação de conteúdos na consciência e, portanto, aquilo que chamamos de percepção não é uma percepção direta da coisa como ela é, mas um reconhecimento, ou seja, aquilo que parece percepção é, na verdade, a visão de uma pessoa ou de um objeto ou de qualquer outra coisa, o evocar dessa objeto presente na memória e depois e definição desse objeto pelo pensamento e pela linguagem. Existe uma árvore, por exemplo, aqui em frente, nesta rua; estamos acostumados a vê-la desde que viemos para cá. Quando olhamos para essa arvore, imediatamente, automaticamente, pensamos: esta é a mesma arvore que sempre vejo.

Um autor disse que a familiaridade, o reconhecimento, produz desprezo, desatenção. Todos nós, quando vemos repetidamente uma coisa, acabamos por ficar indiferentes a essa coisa, a essa pessoa ou a essa experiência, pelo processo da automatização. Por isso, a percepção de nós mesmos, a percepção dos nossos semelhantes, da vida, dos desafios da vida, nunca é uma percepção pura, nunca é uma percepção do presente, mas é sempre um reconhecimento, que é uma leitura do presente pelas lentes do passado, o que gera a mecanicidade da rotina na vida humana. Portanto, fecha-se o ciclo dos modos de lazer violentos. Já que existe mecanicidade e rotina, já que nada de novo acontece, porque a percepção está presa a este ciclo automático de estímulo e resposta, existe ou "cria-se" a necessidade de estímulos externos. Então o indivíduo precisa beber, realizar qualquer tipo de atividade estimulante que lhe mostre que está vivo. Isso cria um vazio interior que, por sua vez, e alimentado por essa falta de percepção.

Um grande mistico sufi, Jalaluddin Rumi, foi um dos maiores poetas islâmicos. O sufismo é a tradição interna, esotérica do Islamismo. Rumi uma vez afirmou: "O sufi é filho do tempo presente". Vejam como numa simples frase ele define todos os estados da consciência, todos os estados de maturidade interior. Ser filho do tempo presente significa que nada do passado influi sobre a nossa experiência. Não existe mais essa tendência neurótica em relação ao passado. Ser filho do tempo presente significa experimentá-lo tal como ele acontece, compreender as coisas agora, não olhar através da lente do preconceito, do conhecimento prévio, o que é, em si, um grande desafio. Isso implica um despertar da consciência. Por que um despertar? Por que até então a consciência estava apenas repetindo os automatismos. A resposta da consciência desperta torna-se, desta forma, numa percepção da verdade inerente às coisas. A verdade das coisas significa as coisas tais como elas são e não como as imaginamos. Porque será que uma mãe que tem um filho excepcional, mongolóide, continua, apesar da aparência externa deformada, às vezes até monstruosa, a dar afeto, carinho, atenção a um ser que as pessoas consideram horrível? É porque ela percebeu a beleza interior daquela pessoa. É porque a sua percepção, guiada por esse afeto e compreensão, fez com que ela alcançasse o interior daquela criatura.

Podemos, portanto, concluir que a vida só é possível no presente. Apesar da nossa dependência crônica em relação ao passado, a vida só é possível no presente e, por isso, a percepção, o significado e o valor só podem ocorrer no presente. Não é possível conhecer o valor de uma coisa no futuro. Não podemos dizer: não, agora estou muito ocupado, estou cheio de problemas; daqui a uns anos vou conhecer estas coisas, vou-me interessar por elas.

Krishnamurti disse que não agiríamos assim se estivéssemos diante de uma serpente venenosa. Se estou diante duma semente venenosa, extremamente venenosa, não digo: vou livrar-me dela numa outra altura, quem sabe, numa outra hora. Se estou diante de um perigo, toda a minha atenção está concentrada nele. Ora, alguns livros definem, simbolicamente, as experiências da vida, as experiências psíquicas, por exemplo, como serpentes internas, corro riscos, que, se não lhes soubermos prestar atenção, irão nos envolver.

Vejam o que S. João da Cruz diz sobre o presente, sobre essa purificação da memória, esse esvaziar da memória: "Embora as vantagens desse esvaziar da memória não sejam tão grandes como o estado de união com Deus, de autoconhecimento real, porque ele meramente livra as almas de muito pesar, dor, incerteza, além de imperfeições e pecados, é na verdade um grande bem". Ora, esse esvaziar da memória não significa tirar a tampa da memória e deixar que ela se esvazie. Esse esvaziar da memória significa desenvolver a capacidade de manter a consciência focada no presente e não ceder à tentação de iniciar um novo ciclo de pensamentos, de preocupações e confusões. Portanto, viver no presente é aprender a morrer para o passado. Este já passou, não vamos conseguir modificá-lo. É claro que, quando as circunstâncias da vida são duras e difíceis, tendemos a refugiar-nos no passado, a desenvolver um certo saudosismo — se os tempos de hoje são horríveis, no passado é que era bom. O passado poderia ter sido bom, não há dúvida quanto a isso, mas esse passado não existe mais. O desafio da vida está aqui no presente. Ele não está no futuro imaginário. Quando se vive o presente, descobre-se e compreende-se que o futuro é o florescimento constante a partir do presente. O futuro não surge do nada. Krishnamurti costumava dizer que as pessoas que falam sobre a reencarnação e dizem que acreditam nela, na verdade, não acreditam. Se acreditassem, estariam agora a viver de modo diferente, porque saberiam que a vida presente determinará a vida futura. Portanto, a crença na reencarnação, nesse caso, é uma crença da boca para fora.

YOGA: LIBERTAÇÃO

Um teósofo, chamado Rohit Mehta, fez um comentário aos Yoga Sutras de Patanjali, uma das obras clássicas do Yoga. Existem diferentes teses sobre o Yoga. Algumas pessoas acham que Yoga é ficar de cabeça para baixo, fazendo a postura com as pernas para cima durante meia hora ou dar um nó com as pernas, depois rolar com dores para desfazer esse nó... Na verdade não é isso. O Yoga é considerado na Índia uma ciência sagrada. Não é um mero método de desenvolvimento mental, é uma ciência sagrada porque apresenta, de forma clara, didática e pedagógica, os princípios graduais, progressivos do desenvolvimento interno, que prepara o indivíduo, quando corretamente praticado, para a experiência da comunhão com o Divino. No seu comentário aos Yoga Sutras, Mehta fala sobre a natureza da meditação.

Na verdade, a meditação é uma das etapas do Yoga. Depois de uma base ética e moral, que são os Yama e os Niyama, depois do controle da respiração através de Pranayama, da reta postura, da retração dos sentidos, o indivíduo começa a disciplina mental do Yoga que é concentração, meditação e contemplação ou êxtase: dharana, dhyana e samaddhi em sânscrito. Ele diz que Dhyana ou meditação poderia ser definida como a observação dos conteúdos da consciência. É uma definição simples, clara e precisa da meditação.

A meditação não é, necessariamente, uma visualização, ficar repetindo um mantra, embora um mantra possa ser um auxílio; meditação é pura observação. Deve ser preparada através da concentração, da reta postura, da dieta, para permanecer-se tranqüilo e só então pode-se começar a observar os conteúdos da consciência. Mas observar com absoluta imparcialidade, sem se identificar com eles. Rohit Mehta diz que na consciência humana existem duas áreas principais: a área marginal e a área focal. Ao falar agora, estou cônscio de alguns sons que vêm de fora. A consciência desses sons está na área marginal da minha consciência. Todavia a minha área focal é o pensamento que estou desenvolvendo aqui e agora. Diz também que na área marginal pode haver distrações, porém as preocupações reais estão na área focal da consciência. E as perturbações da consciência são nada mais nada menos do que a memória psicológica, a memória das experiências frustradas, das experiências desagradáveis, das experiências de sofrimento. Tudo isto causa perturbação. Diz ainda que essa memória psicológica é criada quando a experiência não termina com o evento. É uma chave, acho eu, para compreendermos a natureza da mente e da verdadeira meditação. Um exemplo: um indivíduo termina o seu expediente de trabalho às cinco ou seis horas. O expediente foi tenso, cheio de problemas, discussões, atritos, pressões, tensões e, embora termine, enquanto evento, às cinco ou seis horas da tarde, ele continua enquanto experiência. O indivíduo sai dali, apanha o automóvel e continua a ruminar: "aquele fulano vai ver amanhã; isto não vai ficar assim". Ou então começa a condenar-se: "não devia ter sido tio passivo, devia tê-lo amassado na hora"; ou se a pessoa tiver um temperamento introvertido, pensa: "puxa, fracassei de novo. Na verdade, sou um inútil, não sirvo para nada". O fato, o evento terminou, que foi o expediente, mas a experiência continua. É essa ausência de sincronicidade, de alinhamento de fim do evento como fim da experiência, que cria a memória psicológica e gera perturbação. Quando temos a experiência e a compreendemos, assimilamos o seu significado e, se a deixarmos de lado para continuarmos a viver no presente, não se cria esse resíduo. Esse resíduo psicológico é fonte de sofrimento.

A verdadeira meditação, ao invés de ser uma visão ou uma experiência transcendental, é criar a equanimidade da mente, a tranqüilidade interior e a impessoalidade para observar os conteúdos da consciência, para observar a memória psicológica. Se você observar os conteúdos da sua consciência sem condenação nem justificativas, isso modifica a sua mente. Esses conteúdos continuam sendo causa de problemas de crises e perturbações, porque eles nunca foram examinados. Na linguagem do psicólogo suíço CarI Gustav Jung, eles são a sombra, os aspectos obscuros da nossa natureza para os quais não queremos olhar. E Jung disse que, quando encontramos uma pessoa com quem antipatizamos de uma forma profunda, devemos prestar atenção a isso, porque essa pessoa de alguma forma está exprimindo algum aspecto da nossa própria sombra, e é por isso que antipatizamos com ela, porque ela está exprimindo na sua conduta algum aspecto nosso que deploramos. Mistérios da psicologia humana!

Quando existe liberdade em relação ao passado, ou seja, quando não somos mais dominados por esse apego ao passado e por essa influência sufocante do passado, na forma de hábitos, desejos e tudo o mais, e existe a ausência de preocupação em relação ao futuro, é porque estamos contentes em viver o momento presente, que é, de fato, significativo da relação profunda com a realidade. A vida é só presente. Existe, dessa forma, a consciência do significado do momento presente dentro de cada relacionamento. Voltemos ao exemplo da mãe que cuida de um filho mongolóide. Ela é capaz de renovar a cada dia o seu afeto, a sua dedicação porque ela percebe o valor intrínseco daquela criatura. Nós perdemos essa capacidade de contatar o valor intrínseco, a dignidade inerente da cada ser. Como Thomas Kempis disse, para quem é atento, mesmo a mais abjeta das criaturas é uma expressão da Bondade de Deus. Não existe nenhuma criatura inútil em todo o Cosmos. Toda a criatura tem um significado e um valor, porque o significado está presente em todas as coisas. Porque a vida é una, o significado da vida e o seu propósito estão presentes em todas as coisas; ele não está somente numa obra específica ou numa pessoa ilustre. Quando o descobrimos, conseguimos descobri-lo em todos os seres. Como diz o Kata Upanishad — "todo este Universo e todos os seres que ele contêm são a morada de Brahma". Ou Sri Krishna — "todos os seres têm as suas raízes em Mim", no Divino. Em cada ser que encontramos, se formos capazes de ir para além da vestimenta externa, da aparência, encontraremos esse Divino. Este é o significado do ensinamento alquímico sobre a Pedra Filosofal. As pessoas com tendência para materializar tudo continuam tentando produzir a Pedra Filosofal através de reações químicas, mas a Pedra Filosofal representa essa consciência que vê o Divino em todas as coisas. Para tudo o que se olha, encontra-se o Divino, ou seja, a vida una, a consciência una.

O presente, desta forma, toma-se a porta para o atemporal, para o eterno, para aquilo que não é possível de ser fragmentado em passado, presente e futuro, para aquilo que é uma pura expansão, uma pura duração e, conseqüentemente, a percepção do eterno, a percepção do momento presente no seu valor. O seu significado pacifica de tal forma que tranqüiliza a mente, tornando-se esta pronta para refletir aquilo que e incriado, e que, paradoxalmente, é a causa de toda a criação, aquilo que está acima de toda a linguagem e que, uma vez experimentado, provoca uma transformação profunda na vida humana. A característica principal desta transformação é que, daí em diante, razão e emoção, mente e coração, nunca mais funcionam separadamente, mas, sim, de uma forma unitária, integrada e, portanto, são a marca da sabedoria, que já foi definida de diferentes maneiras e que foi também definida como sendo uma mente que ama e um coração que vê. Quando existe sabedoria dentro da uma pessoa, a sua mente não mais julga, analisa nem classifica, mas possui uma compreensão que é acrescida pelo calor do coração, e o coração, por sua vez, gera uma afeição que não é cega, possessiva, passional, mas que e tornada universal pela amplitude da mente. É bem provável que da integração da mente com o coração dependa a existência continuada da humanidade e talvez mesmo de uma verdadeira nova era.

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