ZEN DICAS & MUSICAIS

CIRCULO ZEN,

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Tento colocar um pouquinho de cada coisa que gosto de estudar. São assuntos diversos muitas vezes que nem sei de onde peguei, mas são temas aos quais me identifico. Se o autor de algum texto deparar com ele escrito aqui, não se irrite, ao contrário, lisonjeie-se em saber que alguém admira seu pensamento.

Não há religião superior à verdade, o importante é a nossa convivência de respeito mútuo e amizade, sempre pautados na humildade, no perdão e na soliedaridade.

Autoconhecimento, Filosofia, Espiritualidade, Literatura, Saúde, Culinária, Variedades..

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(Richard Bach)


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circulo zen

31.7.09

MATERIALISMO ESPIRITUAL







As pessoas costumam quase sempre começar um trabalho espiritual com ideias pré-concebidas sobre o que vão aprender e a maneira de ser da pessoa que, segundo elas, vai dar-lhes o que desejam receber. Embora as aspirações espirituais de cada um de nós ao chegar à Nova Acrópole fossem sinceras, levavam consigo uma boa bagagem de confusão, de incompreensão e de esperanças.
Se uma evolução correcta no caminho espiritual necessita de um trabalho penoso e subtil, participar num meio de transformação individual e colectivo com Nova Acrópole é ainda delicado sobretudo se se tiver em conta as armadilhas pseudo- -espirituais dos tempos em que vivemos. Podemos, com efeito, iludir-nos crendo que estamos a evoluir espiritualmente quando, na realidade, estamos a utilizar as técnicas espirituais para reforçarmos o nosso ego ou "pequeno eu".
Esta distorção de base, que consiste em utilizar as técnicas espirituais para reforçar o nosso ego, é o que chamamos "MATERIALISMO ESPIRITUAL". É um grande perigo para todos nós querer utilizar as técnicas espirituais para desenvolver a resistência do "pequeno eu", gestor progressivo da nossa materialidade.

O materialismo não é apenas crer na matéria. Se não fosse mais do que isto, não seria tão difícil desfazer-se do problema. Porém a realidade é que o materialismo esconde-se sob aparências muito diferentes: existem várias formas de materialismo, espécie de "subcorpos" do materialismo: o materialismo materialista; o materialismo com matizes vitalista, sentimental, intelectual; o que não procura senão fórmulas para aparentar, o que quer confirmar o seu eu possessivo prejudicando o seu próprio ser interior, asfixiando as suas qualidade intrínsecas, impedindo-as de se expressarem e de se transcenderem realmente, consolando-se no aparente e na imagem que damos, acabando por ocultar o que somos.
O materialismo espiritual trabalha sobre a consciência, sobre o ego, por meio de muitas formas de auto-ilusões forjadas pelo pequeno eu que se crê equilibrado e homogéneo e que toma o lugar do ser interior. O pequeno eu peca por narcisismo. É devido a isto que falamos de auto-ilusões. Agrada-lhe crer no que lhe convém, no que mais lhe interessa: eu sou brioso, eu sou bom, eu sou generoso, extraordinário, etc... Cada um de nós leva na bagagem uma auto-ilusão: um espelhismo, uma projecção do que crê ser o que llhe convém. Alguns gostam de dizer que sofrem, outros que não sofrem, outros que não necessitam de nenhum carinho, outros pelo contrário, não cessam de repetir: "Ninguém me quer, ninguém gosta de mim".
Cada qual com as suas próprias auto-ilusões, que são muito diferentes de indivíduo para indivíduo. Isto é o que deixamos ver aos demais. Chama-se auto-ilusão a todas essas formas mentais que fabricamos para nos apresentarmos aos demais e que acreditamos serem os nossos melhores cartões de visita para que os outros nos aceitem, nos julguem e nos considerem bem.

Estes são os milhares de rostos que fabricamos com a ajuda de técnicas materiais ou espirituais, postas ao serviço do ego para que seja aceite. São os vários disfarces fabricados pela Alma porque, desconhecendo-se, tem medo de si própria, das suas dúvidas. O eu pessoal é possessivo e tem medo das dificuldades, buscando sempre protecção e assistência. O materialismo espiritual é esta busca do ego, de soluções precisas, busca de uma noção de solidez, de estabilidade, em que tudo deve ter um porquê. Isto é auto-ilusão, quere assegurar-se exageradamente de que tudo será como se quer, sem surpresas, asséptico, controlado de antemão.
É o logro em que todos nós caímos; querermos assegurar-nos de antemão do êxito, qualquer que seja o ensinamento que estamos a receber. E ao fazermos isto caímos no reducionismo ideológico e transformamos a doutrina em utopia, mesmo que seja a mais espiritual.

E este é o trabalho essencial: quando se quer criar uma fraternidade, quando se quer trabalhar com uma determinada quantidade de pessoas, somos obrigados a ir mais além destes disfarces, mais além destas auto-ilusões. De outro modo, todas as relações estabelecidas com os demais nunca serão verdadeiras. Basear-se-ão nas aparências, no parecer e serão, por conseguinte, efémeras e superficiais, distantes da fraternidade, do intercâmbio verdadeiro, do amor verdadeiro que não é simplesmente o facto de consolar a pessoa que pede amor ou de tranquilizá-la porque necessita que se lhe diga que é importante. Às vezes, o amor verdadeiro pode causar sofrimento e não ser sempre brando. As atitudes verdadeiras não existem, mas sim as relações verdadeiras. A atitude verdadeira, permanente neste mundo, não existe visto que o que hoje é bom pode ser mau amanhã. Porém o "eu" necessita sempre de coisas similares para se consolidar, para se sentir mais forte; caso contrário sentir-se-á perturbado. O eu compraz-se no hábito.
Esta busca da estabilidade pelo eu, é um reflexo condicionado. Este ego auto-ilusório a que me refiro, é burguês, é o "eu" do burguês. As sociedades burguesas apareceram quando as sociedades e sistemas tradicionais foram destruídos. Foi então que surgiu a sociedade burguesa com o seu ideal de proteccionismo, de aparências, de nada querer mudar, em que tudo estava bem definido e toda a gente muito bem educada, segundo um código formal de bons costumes.
As ideologias são as do materialismo, de esquerdas ou direitas, de cima ou de baixo. Esta forma que toda a gente mais ou menos conhece, e que chamamos burguesia é o nascimento das ideologias reducionistas, seguradoras, higienistas, como expressão de uma lei auto-ilusória que necessita de referências formais muito estritas (não se deve sair de noite a partir de tal hora, não se deve fazer isto ou aquilo...). O pequeno eu auto-ilusório necessita de coisas sólidas e utiliza para proveito próprio a ciência, a espiritualidade, os padres... enfim, tudo o que necessite para se sentir mais seguro de si. Por exemplo, para o burguês casar-se pela igreja não significa espiritualidade; fá-lo antes por um código social, para tranquilizar as pessoas e ficar bem visto. Não se trata de uma vontade interior de transformação. Ainda que não acredite nisso acaba por fazê-lo para ficar bem visto. Esta mentalidade não ama o risco nem o sacrifício, nem tão pouco busca uma aventura interior; segundo esta visão, vale mais ser cabeça de ratão do que cauda de leão.

A evolução e universalidade deste tipo de cultura nos últimos séculos - a do pequeno eu auto-ilusório -, engendrou a civilização na qual vivemos e provocou as dificuldades que todos nós encontramos para sair desta auto-ilusão que nos fez acreditar em mentiras e que nos impede de ir mais longe e de compreender o que é a Tradição, a busca espiritual verdadeira.
O simples facto de compreendermos que estamos todos encerrados neste tipo de cultura não é suficiente para crer que já não estamos ligados a ela. Vai ser muito difícil afastar-nos desta realidade, que não é simplesmente social como por vezes se pensa, mas que está muito mais profundamente arraigada em cada um de nós, portadores de expressões próprias do materialismo espiritual, incluindo os que se interessam pela actividade espiritual. É por esta razão que muitos espiritualistas se interessam pelos discos voadores (trata-se de uma máquina, claro está), pelo Egipto; porém, o que lhes interessa dos Egípcios é saber "como é que construíram as pirâmides" e não a Iniciação ou o desenvolvimento interior.
Se derdes uma olhadela nos livros do tipo esotérico vereis que, em geral, as pessoas se interessam pela sua saúde ou pela comida, e muito pouco pelo espírito metafísico. São muito poucos os textos sobre a ideia de renúncia e do combate interior. Se perguntardes numa livraria o que é que vendem mais no campo esotérico, dir-vos-ão que as pessoas procuram os conselhos práticos: como casar-se com a ajuda da astrologia, como cozinhar "saudável". E à parte estão os textos herméticos que têm, por suposto, muito pouco êxito. As pessoas que se interessam de verdade por uma busca global no plano metafísico e prático são muito poucas. E isto desde todos os tempos.
Embora a experiência ameace constantemente fazer cair o ego do seu castelo de cartas, fruto das suas elucubrações intelectuais e da sua autocomplacência, sempre que devemos efectuar uma prova face à realidade, procuramos sistematicamente neutralizá-la.

O eu tenta a todo o custo, quando sente que a experiência real demonstra a sua fragilidade e as suas dificuldades, criar uma espécie de complacência e de reflexo condicionado para neutralizar todos os caminhos que o levariam a superar a prova. Então há bloqueio, uma tensão, uma vibração que nascem do facto de não se querer, na realidade, passar a prova. É por esta razão que, muito provavelmente estareis um pouco irritados, cada um num momento diferente porque o que é prova para uns não o é para outros.
A chave da maioria das nossas crispações é esta: a vontade de neutralizar a prova. E a prova não pode ser neutralizada; um mundo neutro é o mundo burguês, higiénico e sem parasitas, em que toda a gente está limpa e vacinada. Nenhum risco, não há micróbios.
Foi esta ideia de mundo limpo e higiénico que conduziu o nazismo a exterminar tantos seres humanos. Porque o nazismo é isto: um ideal de higiene e apolinismo excessivos. Esta crença continua a existir: vede o que se passa, por exemplo, no Cambodja. Este é o resultado de querer neutralizar tudo; então, tudo seria perfeito porto que tudo seria neutro. Assim, pois, a nossa sociedade está obcecada pela neutralidade, pela não-acção. Isto reflecte-se nas modas assexuadas, nas opções políticas neutras, etc...
Desta maneira se exprime a natureza do pequeno eu, que é o verdadeiro vencedor dos finais do século XX; estamos possuídos pela sua filosofia que neutraliza a prova do enfrentamento com a realidade. Na verdade vivemos por procuração, apreendendo uma realidade branda fabricada pelos meios de comunicação. A nossa sociedade vive experiências verdadeiras e terríveis que a deveriam fazer reflectir; a guerra do Líbano é uma experiência terrível: neutralizamo-la. Vivêmos Tchernobyl: isolamo-lo. E assim nada chega à globalidade, pois tudo tem de ser neutralizado e rapidamente. Não obstante o mal-estar existe. Tomemos, como exemplo, a droga: há que neutralizá-la. Porém não se pergunta: "porque é que os jovens se drogam?". Luta-se contra os traficantes, mas não se luta contra a sociedade que empurra os jovens para a droga, porque não encontram outra alternativa. Se o fizessemos, teríamos de nos enfrentar com o verdadeiro problema, e isto não é possível dentro dos sistemas actuais.

Por isso não há dicotomia entre a compreensão do que vivemos no interior de nós mesmos e o que a humanidade está a viver colectivamente, visto que não há tanta diferença entre indivíduo e colectividade, pois as regras são as mesmas para ambos.
É possível que ao longo da evolução humana, o perigo da humanidade ficar submersa pelas forças do pequeno eu, nunca tenha sido tão grande como agora. No passado, houve sempre um sábio ou um grupo de homens que tomavam as medidas necessárias para lutar e erradicar o perigo. Actualmente, nenhuma destas duas possibilidades existe; por consequência, o problema é muito mais complexo. Além disso, não seria suficiente erradicá-lo do exterior, já que isto seria simplesmente criar um desequilíbrio. O que se trata agora é de saber se o homem pode ou não pode com os seus próprios meios e sem ajuda do exterior, através de um trabalho pessoal, levar a cabo uma transformação consciente.
Esta é a razão pela qual estamos a viver a nossa experiência. Mas tão pouco devemos cair numa depressão ou visão apocalíptica; pelo contrário, há que compreender que esta é uma oportunidade única para ir muito mais além da experiência humana colectiva. Por conseguinte, há que ter cuidado com a neutralização, porque para evoluir somos obrigados a passar por uma confrontação com a realidade, pela dor, única possibilidade de saída deste estado de confusão, de falta de discernimento, de excesso de agitação. Estamos todos demasiado agitados. O que irão pensar? O que irão fazer? O que devo fazer? A agitação produz confusão. Uma luz clara obscurece-se com a agitação. Se nos agitarmos menos, veremos as coisas mais claramente, pois estaremos mais calmos. As pessoas acalmam-se de modo muito diferente: uma bofetada ou uma carícia, uma palavra... de todas as formas o objectivo é acalmar. Os meios são distintos segundo as pessoas. Não existe uma solução única.
Segundo a tradição, avançar no caminho espiritual significa combater a nossa própria confusão e descobrir o nosso estado de atenção, condição original do nosso espírito, e descobrir que o nosso estado de atenção precede a nossa encarnação, que não é algo que construímos no momento, mas que é como a Alma. A nossa mónada, a nossa luz interior não necessita ser iluminada.
A nossa luz existe desde o princípio e não temos nada para acender. O nosso dever como filósofos é desembaraçar o caminho do que se interpõe entre esta luz e nós. Todos temos o nosso Eu Superior; o que nos falta é a consciência disso. Todos somos a encarnação de um ponto de luz. Cada um de nós tem, como dizem os textos sagrados, a chispa, a chama ou o fogo. Mas se estivermos demasiado fechados, não captaremos deste fogo mais do que o calor. O materialismo espiritual cegou-nos com o seu utilitarismo aproveitando apenas o calor da chama interior que temos em nós, esquecendo a sua Luz. Para ver é necessário abrir os olhos; ousa e vive a tua luz.

(Fernand Schwarz)



ALEM DO MATERIALISMO ESPIRITUAL

Desenvolver sanidade básica é um processo de trabalhar a si mesmo em que o próprio caminho, em vez de um objetivo a ser alcançado, se torna a base do trabalho. O próprio caminho é o que constantemente nos inspira, no lugar de -- como no exemplo da cenoura amarrada na frente do burro -- promessas sobre algumas realizações que estão adiante de nós. [...]

A diferença entre materialismo espiritual e transcender o materialismo espiritual é que, no materialismo espiritual, promessas são usadas como uma cenoura na frente do burro, nos atraindo para todo tipo de jornada.

Transcendendo o materialismo espiritual, não há nenhum objetivo. O objetivo existe em cada momento de nossa situação na vida, em cada momento de nossa jornada espiritual. Dessa maneira, a jornada se torna tão excitante e bonita como se já fôssemos Buda.

Há novas descobertas constantes, mensagens constantes, avisos constantes. Há também cortes constantes, lições dolorosas constantes, assim como lições prazerosas. A jornada de transcender o materialismo espiritual é uma jornada completa, em vez de uma que depende de um objetivo externo.


Chogyam Trungpa (Tibete, 1939 - Canadá, 1987)
“Crazy Wisdom"
Ocean of Dharma Quotes of the Week (01/07/09)

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