ZEN DICAS & MUSICAIS

CIRCULO ZEN,

Sejam bem vindos ao ZEN DICAS & MUSICAIS.


Apresentamos teorias, informações, previsões, profecias e idéias que devem ser vistas apenas como caráter especulativo. Não queremos doutrinar, afirmar ou convencer ninguém..

Tento colocar um pouquinho de cada coisa que gosto de estudar. São assuntos diversos muitas vezes que nem sei de onde peguei, mas são temas aos quais me identifico. Se o autor de algum texto deparar com ele escrito aqui, não se irrite, ao contrário, lisonjeie-se em saber que alguém admira seu pensamento.

Não há religião superior à verdade, o importante é a nossa convivência de respeito mútuo e amizade, sempre pautados na humildade, no perdão e na soliedaridade.

Autoconhecimento, Filosofia, Espiritualidade, Literatura, Saúde, Culinária, Variedades..

Tudo isso acompanhado de uma Zen Trilha Sonora com muito Alto Astral.



“Citarei a verdade onde a encontrar”.
(Richard Bach)


ZEN DICAS & MUSICAIS.
VIVA O AGORA !
NAMASTÊ.

NUNCA PERCA A CURIOSIDADE SOBRE O SAGRADO!

Albert Einstein

circulo zen

20.8.09

FILOSOFAR

Filosofia: doutrina e exercício da sabedoria (e não simples ciência) KANT



Filosofar é pensar por conta própria; mas só se consegue fazer isso de um modo válido
apoiando-se primeiro no pensamento dos outros, em especial dos grandes filósofos do
passado. A filosofia não é apenas uma aventura; também é um trabalho, que requer esforços,
leituras, ferramentas. Os primeiros passos costumam ser rebarbativos, e já desanimaram mais
de um.

O que é a filosofia? Já me expliquei muitas vezes a esse respeito, e faço-o mais uma vez.
A filosofia não é uma ciência, nem mesmo um conhecimento; não é um saber a mais: é uma
reflexão sobre os saberes disponíveis. É por isso que não se pode aprender filosofia, dizia
Kant: só se pode aprender a filosofar. Como? Filosofando por conta própria: interrogando-se
sobre seu próprio pensamento, sobre o pensamento dos outros, sobre o mundo, sobre a
sociedade, sobre o que a experiência nos ensina, sobre o que ela nos deixa ignorar... Encontrar
no caminho as obras deste ou daquele filósofo profissional, é o que se deve desejar. Com isso
pensaremos melhor, mais intensamente, mais profundamente. Iremos mais longe e mais
depressa. Mas esse autor, acrescentava Kant “não deve ser considerado o modelo do juízo,
mas simplesmente uma ocasião de se fazer um juízo sobre ele, até mesmo contra ele”.

Ninguém pode filosofar em nosso lugar. É evidente que a filosofia tem seus
especialistas, seus profissionais, seus professores. Mas ela não é uma especialidade, nem uma
profissão, nem uma disciplina universitária: ela é uma dimensão constitutiva da existência
humana. Uma vez que somos dotados de vida e de razão, coloca-se para todos nós,
inevitavelmente, a questão de articular uma à outra essas duas faculdades. É claro que
podemos raciocinar sem filosofar (por exemplo, nas ciências), viver sem filosofar (por
exemplo, na tolice ou na paixão). Mas não podemos, sem filosofar, pensar nossa vida e viver
nosso pensamento: já que isso é a própria filosofia.

A biologia nunca dirá a um biólogo como se deve viver nem se deve, nem mesmo se
se deve fazer biologia. As ciências humanas nunca dirão o que a humanidade vale, nem o que
elas mesmas valem. Por isso é necessário filosofar: porque é necessário refletir sobre o que
sabemos, sobre o que vivemos, sobre o que queremos, e porque nenhum saber basta para
empreender essa reflexão nem nos dispensa dela. A arte? A religião? A política? São grandes
coisas, mas também devem ser interrogadas. Ora, a partir do momento em que as
interrogamos, ou nos interrogamos sobre elas um pouco profundamente, saímos delas, pelo
menos em parte: já damos um passo para dentro da filosofia. Nenhum filósofo contestará que
esta, por sua vez, tenha de ser interrogada. Mas interrogar a filosofia não é sair dela, é entrar
nela.

Por que caminho? Segui aqui o único que conheço de fato, o da filosofia ocidental. O
que não quer dizer que não haja outros. Filosofar é viver com a razão, que é universal. Como a
filosofia poderia ser reservada a alguém? Ninguém ignora que há, especialmente no Oriente,
outras tradições especulativas e espirituais. Mas não dá para falar de tudo e seria ridículo, de
minha parte, pretender apresentar pensamentos orientais que só conheço, na maioria, de
segunda mão. Não creio que a filosofia seja exclusivamente grega e ocidental. Mas,
evidentemente, como todo o mundo, estou convencido de que há no Ocidente, desde os
gregos, uma imensa tradição filosófica, que é a nossa, e é para ela, é nela, que gostaria de
guiar o leitor.

Viver com a razão, dizia eu. Isso indica uma direção, que é a da filosofia, mas não
poderia esgotar seu conteúdo. A filosofia é questionamento radical, busca da verdade global
ou última (e não, como nas ciências, desta ou daquela verdade particular), criação e utilização
de conceitos (mesmo que isso também se faça em outras disciplinas), reflexividade (volta do
espírito ou da razão para si mesmo: pensamento do pensamento), meditação sobre sua própria
história e sobre a história da humanidade, busca da maior coerência possível, da maior
racionalidade possível (é a arte da razão, por assim dizer, mas que desembocaria numa arte de
viver), construção, às vezes, de sistemas, elaboração, sempre, de teses, de argumentos, de
teorias... Mas também é, e talvez antes de mais nada, crítica das ilusões, dos preconceitos, das
ideologias. Toda filosofia é um combate. Sua arma? A razão. Seus inimigos? A tolice, o
fanatismo, o obscurantismo. Seus aliados? As ciências. Seu objeto? O todo, com o homem
dentro. Ou o homem, mas no todo. Sua finalidade? A sabedoria: a felicidade, mas na verdade.

Tem pano para muita manga, como se diz; ainda bem, porque os filósofos gostam de arregaçá-las!
Na prática, os objetos da filosofia são incontáveis: nada do que é humano ou verdadeiro
lhe é estranho. Isso não significa que todos tenham a mesma importância. Kant, numa
passagem célebre da sua Lógica, resumia o domínio da filosofia em quatro questões: Que
posso saber? Que devo fazer? O que me é permitido esperar? O que é o homem? “As três
primeiras questões remetem à última”, observava Kant. Mas as quatro desembocam, eu
acrescentaria, numa quinta, que é sem dúvida, filosófica e humanamente, a questão principal:
Como viver? A partir do momento em que tentamos responder a essa pergunta de modo
inteligente, fazemos filosofia. E, como não se pode evitar de formulá-la, é forçoso concluir
que só se escapa da filosofia por tolice ou obscurantismo.

Deve-se fazer filosofia? Uma vez que fazemos essa pergunta, em todo caso, uma vez
que tentamos responder a ela seriamente, já estamos fazendo filosofia. Isso não quer dizer que
a filosofia se reduza à sua própria interrogação, menos ainda à sua autojustificação. Porque
também fazemos filosofia, pouco ou muito, bem ou mal, quando nos interrogamos (de
maneira ao mesmo tempo racional e radical) sobre o mundo, sobre a humanidade, sobre a
felicidade, sobre a justiça, sobre a liberdade, sobre a morte, sobre Deus, sobre o
conhecimento... E quem poderia renunciar a fazê-lo? O ser humano é um animal filosofante:
só pode renunciar à filosofia renunciando a uma parte da sua humanidade.

É preciso filosofar, portanto: pensar tão longe quanto pudermos, e mais longe do que
sabemos. Com que finalidade? Uma vida mais humana, mais lúcida, mais serena mais
razoável, mais feliz, mais livre... É o que se chama tradicionalmente de sabedoria, que seria
uma felicidade sem ilusões nem mentiras. Podemos alcançá-la? Nunca totalmente, sem
dúvida. Mas isso não nos impede de tender a ela, nem de nos aproximar dela. “A filosofia”,
escreve Kant, “é para o homem esforço em direção à sabedoria, esforço sempre não
consumado.” Mais uma razão para empreender esse esforço sem mais tardar. Trata-se de
pensar melhor para viver melhor. A filosofia é esse trabalho; a sabedoria, esse repouso.

O que é a filosofia? As respostas são tão numerosas, ou quase, quantos os filósofos. O
que não impede, todavia, que elas se cruzem ou convirjam para o essencial. No que me diz
respeito, tenho um fraco, desde os meus anos de estudo, pela resposta de Epicuro: “A filosofia
é uma atividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona a vida feliz.” É definir a
filosofia por seu maior êxito (a sabedoria, a beatitude), o que, mesmo que o êxito nunca seja
total, é melhor do que encerrá-la em seus fracassos. A felicidade é a meta; a filosofia, o
caminho. Boa viagem a todos!

Do livro: Apresentação da filosofia de André Comte-Sponville

retirado:http://franciscorenaldo.blogspot.com

Nenhum comentário: