ZEN DICAS & MUSICAIS

CIRCULO ZEN,

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Apresentamos teorias, informações, previsões, profecias e idéias que devem ser vistas apenas como caráter especulativo. Não queremos doutrinar, afirmar ou convencer ninguém..

Tento colocar um pouquinho de cada coisa que gosto de estudar. São assuntos diversos muitas vezes que nem sei de onde peguei, mas são temas aos quais me identifico. Se o autor de algum texto deparar com ele escrito aqui, não se irrite, ao contrário, lisonjeie-se em saber que alguém admira seu pensamento.

Não há religião superior à verdade, o importante é a nossa convivência de respeito mútuo e amizade, sempre pautados na humildade, no perdão e na soliedaridade.

Autoconhecimento, Filosofia, Espiritualidade, Literatura, Saúde, Culinária, Variedades..

Tudo isso acompanhado de uma Zen Trilha Sonora com muito Alto Astral.



“Citarei a verdade onde a encontrar”.
(Richard Bach)


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NAMASTÊ.

NUNCA PERCA A CURIOSIDADE SOBRE O SAGRADO!

Albert Einstein

circulo zen

29.1.10

JUNG E A ESPIRITUALIDADE


Jung e a Espiritualidade.


O Self e o Mal. O Paradoxo do Arquétipo Central
Um Estudo da Psicologia Simbólica Junguiana1


Carlos Amadeu Botelho Byington2


O símbolo de Deus, da totalidade, acompanha a humanidade desde sempre. Sua
representação simbólica é coordenada pelo Arquétipo Central do Self, que promove a
formação da Consciência e a sua relação com o Todo. No entanto, o Mal, a força que
antagoniza e freqüentemente tenta destruir a criação, também nos acompanha em nosso dia
a dia. Como conciliar a polaridade Bem e Mal, tão radicalmente antagônica, dentro do
processo de desenvolvimento da Consciência Individual e Coletiva?
A capacidade simbólica da criança inicia-se muito cedo, primeiro na posição passiva,
que vai formando o Ego através das suas inúmeras vivências nas relações primárias e, logo
a seguir, também na posição ativa quando o Ego participa de maneira cada vez mais
decisiva na simbolização. Os cem bilhões de neurônios que formam o nosso cérebro
permitem ao ser humano empregar inteligentemente os significados da vida, formando e
equipando o Ego com as representações do mundo interno e do mundo externo. Esse
manancial neurológico multiplica geometricamente os significados instintivos através das
representações da imaginação. É essa capacidade que formará a linguagem e suas
inúmeras metáforas, capazes de expressar a riqueza da atividade psíquica.
A articulação das polaridades das representações mentais é o centro da atividade
consciente e inconsciente e organizará a vida psíquica e a Consciência. Existem duas
polaridades que serão as mais difíceis de elaborar e organizar no conhecimento durante
toda a vida. Elas são a Vida e a Morte e o Bem e o Mal.
Heidegger formulou brilhantemente que o ser humano se caracteriza pela consciência
da sua caminhada em direção à morte e Sabina Spielrein descreveu a morte presente desde
a concepção, quando os gametas se unem e morrem para dar início à vida. Apesar disso,
porém, a maioria dos mortais sente a morte bem longe, lá no fim da vida. O mesmo não.
1 Mesa Redonda: Jung e a Espiritualidade. Evento de comemoração dos 30 anos da Sociedade Brasileira de Psicologia
Analítica. São Paulo, 27 de setembro de 2008
2 Médico psiquiatra e psicoterapeuta junguiano. Membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. Educador e
Historiador. Criador da Psicologia Simbólica Junguiana. E-mail: c.byington@uol.com.br. Site: www.carlosbyington.com.br
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acontece com a polaridade do Bem e do Mal, com a qual convivemos inevitavelmente no
dia-a-dia. Não podendo evitá-la no tempo como fazemos com a morte, tentamos dela
escapar de várias maneiras.
A principal forma de fugirmos do Mal é a identificação do Ego com o Bem e a projeção
do Mal nos outros. Alguns imaginam que essa projeção defensiva seja uma característica de
pessoas ignorantes e sem importância social. Isso, porém, não é assim. É famosa a frase de
um personagem de Sartre na sua peça Huit-clos, que afirma que “o inferno são os outros”.
Quando vemos que o próprio presidente do país mais poderoso do planeta empregou a
defesa projetiva para definir três países como o eixo do Mal e baseou-se nesta afirmação
para declarar guerra, bombardear e invadir um deles, trazendo a morte a milhares de
pessoas desta e de sua própria nação, concluímos que a projeção defensiva do Mal é algo
que atinge a todos. Ela é tão perigosa porque, como esse caso bem ilustra, isso
desencadeou uma defesa contrária que projetou o Mal de volta, também defensivamente,
criando a escalada ameaçadora do terror no mundo atual. Assim, podemos afirmar que a
maneira mais eficiente para evitar e aplacar o Mal é controlar sua projeção defensiva e
percebê-lo principalmente dentro de nós, antes de vê-lo nos outros. Mas, como fazê-lo se
não chegamos a um acordo nem sobre o que é o Mal nem como ele se forma? A própria
psicologia, na maior parte das obras de seus brilhantes autores, não aborda sequer a tarefa
de enfrentar este desafio.
Quando estamos na fronteira do conhecimento racional, é sempre bom recorrermos
aos símbolos das mitologias e das religiões, pois desde sempre eles abordaram
exuberantemente os problemas humanos, com uma amplificação fantástica através da
imaginação. Dentro da vida dos deuses, e simbolizando os processos psicológicos, a luta
entre o Bem e o Mal está geralmente de alguma maneira presente no seu panteón.
A riqueza da mitologia hindu apresenta o Bem e o Mal em muitas de suas imagens e
enredos. Ninguém contesta que a guerra é a principal expressão da destrutividade humana.
O épico Mahabharata é o texto religioso mais extenso de todos os tempos. Ele ultrapassa
nada menos que dez Bíblias. Uma das pérolas dos textos nele reunidos é a Baghavad Gita
ou Canção do Senhor. Ela é tão sublime e profunda que, segundo um biógrafo de Gandhi,
ela era seu livro de cabeceira, que ele lia como uma verdadeira oração, e nela inspirou-se
para aprofundar-se na doutrina do Ahimsa, da não violência. Isso é dificílimo de
compreender, porque o poema trata do momento em que os dois exércitos chefiados por
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irmãos combatem numa guerra tão feroz que os dizima. Antevendo a catástrofe, o príncipe
Arjuna, um dos irmãos Pandavas, hesita em lutar contra seus primos Kauravas e argumenta
com seu cocheiro, que é o próprio Deus Krishna, o oitavo avatar de Vishnu. Como poderia
ele matar seus inimigos, dentre os quais muitos eram seus parentes? Krishna o convence a
lutar e a guerra se realiza com a devastação homicida que previra Arjuna.
Minha interpretação da lição de sabedoria do Baghavad Gita é que uma vez formada
a Sombra, o Mal, a luta contra ele é uma imposição do dharma, do dever. Não há como
fugir. A inspiração do Baghavad Gita, que inspirou a Gandhi viver pelo Ahimsa, a não
violência, é a doutrina que prega como evitar a possessão pelo poder e a formação da
Sombra. A Canção do Senhor se revela, assim, um paradoxo, pois ao estimular Arjuna para
lutar, Krishna, através do Mal, está ensinando o que é o Bem e a importância de evitar o
Mal.
Outro grande ensinamento sobre a natureza arquetípica do Mal, sobre sua
abrangência e como lidar com ele na vida está no livro de Jó, no Velho Testamento, no qual
Satanás é claramente reconhecido como um dos filhos de Deus: “Num dia em que os filhos
de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então
perguntou o Senhor a Satanás: De onde vens? Satanás respondeu ao Senhor: de rodear a
Terra e passear por ela” (Jó, 1:6-7). A seguir Satanás explica a Deus que seu servo dileto,
Jó, está em paz com Ele porque está rico e feliz, mas que, se entrar em frustração, Jó o
renegará. Para que comprove sua tese, Deus autoriza Satanás a desgraçar a vida de Jó de
forma extrema. Jó não se conforma com isso e contesta o Senhor.
Na sua adoração idealizada de Deus, Jó O julgava exclusivamente bom e não podia
admitir que Ele abrigasse também o Mal.
O desespero e a revolta de Jó, diante do que ele considera uma injustiça e um erro de
Deus, inundam a sua Consciência com uma vivência mística, na qual lhe é revelada a
grandiosidade infinita da divindade. Dentro de uma verdadeira imaginação ativa, Jó é
questionado por Deus: “Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da Terra?...
Por qual caminho se difunde a luz e se espalha o calor?... Acaso foste tu que deste lei à
estrela d’alva e mostraste à aurora o seu lugar? Quem deu curso à tempestade impetuosa e
a passagem ao estampido do trovão? Porventura abriram-se para ti as portas da morte e
vistes sua profundidade tenebrosa? Em que caminho habita a luz e qual é o lugar das
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trevas?” Vejam como a divindade coloca o conhecimento da polaridade Vida e Morte junto
com a polaridade do Bem e do Mal.
Nestas passagens, constatamos como em tantas outras nos mitos e religiões, que os
poetas são os melhores relatores da transcendência. Entre as imagens que descrevem essa
força incomensurável, neste caso, o poeta introduziu até mesmo afirmações jocosas, como
aquela em que Deus pergunta a Jó, quem foi que deu inteligência ao galo, provavelmente
por ele saudar com seu canto o nascimento do dia.
Seguem-se inúmeros outros exemplos do poder da energia criadora do universo, que
ultrapassa toda a capacidade humana de entendimento.
Deslumbrado com tamanha grandeza que lhe é revelada, Jó se dá conta da limitação
da sua contestação e se reconcilia com Deus. “Na verdade, falei do que não entendia,
coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia... Eu Te conhecia só de
ouvir, mas agora meus olhos Te vêm. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na
cinza” (Jó, 42:3 e 5).
O aumento de consciência de Jó, através do êxtase místico, é imenso e atinge o que
denomino Supraconsciência, que é a capacidade de vermos a Sombra e a Consciência, o
Bem e o Mal como companheiros na vida, ambos expressos pelo Arquétipo Central. É
preciso muita dedicação para se cultivar a vivência da Supraconsciência, mas o esforço vale
à pena. Numa das inúmeras cartas de Jung, que peço a algum de vocês pesquisar qual foi,
tenho certeza de ter lido a afirmação dele de que: “A vida pode trazer muito poder e prazer
através da fama, da riqueza e do amor, mas somente a consciência e o confronto com a
Sombra são capazes de trazer a paz!
A noção, que Jó tinha da divindade excluía Satanás. Este lhe traz a vivência da
frustração com Deus e Jó não a aceita, como previra Satanás a vivência mística de Jó da
totalidade, no entanto, é tão transcendente e abrangente, que o leva a admitir a existência
do Mal na divindade e a compreender que Satanás é um filho de Deus, o que em termos
psicológicos significa que a Sombra também está subordinada ao Arquétipo Central.
Esse episódio é crucial no Velho Testamento, pois ao se reconhecer que a Sombra
faz parte da divindade, prepara-se o Novo Testamento, no qual a elaboração do pecado é o
caminho da salvação. Percebido arquetipicamente, o paradoxo expressa o crescimento do
Ego na individuação, através do resgate da Sombra na relação com o Arquétipo Central,
intermediado pela Função Transcendente da Imaginação.
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Outro grande mito Hindu que relaciona de forma exuberante a luta do Bem e do Mal
dentro da divindade é o Épico Ramayana. O príncipe Rama é a oitava encarnação do Deus
Vishnu. Ele está na floresta cumprindo um exílio com sua esposa Sita, quando o Rakchasa
Ravana a seqüestra e a encarcera no seu reino no sul da Índia. Segue-se uma grande busca
e, finalmente, uma guerra feroz entre Rama e Ravana, responsável não só pelo rapto de
Sita, como por mil outras ruindades. Ravana é um demônio com dez cabeças, cada uma
com uma vida de dez mil anos. No meio do drama, começa a expirar a vida da última cabeça
de Ravana e este implora ao Deus supremo Brahma que lhe renove a vida. Ao receber nova
vida para suas dez cabeças, Ravana sente-se o eleito do Deus, mas Brahma lhe frustra
nessa ilusão, quando lhe afirma: _ Eu sofro a sua existência! Esta frase poderia ter sido
pronunciada pelo Arquétipo Central com respeito à Sombra. O simbolismo do mito é um
paradoxo, pois por um lado Brahma defende a pujança e o valor de Rama, mas por outro,
renova a vida de Ravana, apesar de sofrer com isso
O fato de o paradoxo de Deus na religião abrigar o Bem e o Mal pode ser melhor
compreendido pelo conceito de arquétipo na Psicologia, quando relacionamos
dinamicamente a Sombra, ou seja, do Mal, com o Arquétipo Central.
Se já é tão difícil estudar a polaridade do Bem e do Mal de maneira que sua relação
faça sentido, a dissociação materialista ocorrida no final do século dezoito tornou essa tarefa
teoricamente impossível dentro da epistemologia positivista. Ao tomar o poder na
Universidade, no final do século dezoito na luta contra a Inquisição, a Ciência dissociou o
subjetivo do objetivo e as chamadas ciências exatas das ciências humanas. Assim, a ética
nas ciências exatas passou a existir exclusivamente em função da verdade da objetividade
e, com isso, separou-se radicalmente do humanismo.
Vejamos agora a dinâmica da Sombra dentro da elaboração simbólica propriamente
dita.
O desenvolvimento da personalidade, baseado no conceito de arquétipo de Jung,
ocorre dentro da teoria das polaridades, segundo a qual tudo na psique é bipolar, inclusive
os arquétipos. Através das representações do real, que denominamos símbolos, funções e
sistemas estruturantes, a bipolaridade pode ser percebida em todas as dimensões
psicológicas. Por isso, não podemos definir a identidade em função só de um pólo de uma
polaridade, porque os dois pólos, de algum modo a integram. É importante que relacionemos
os pólos na maneira dialética propiciada pelo Arquétipo da Alteridade, pois assim podemos
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abranger toda a gama de relacionamento dos pólos das polaridades, não são só como
opostos, mas também incluindo as situações extremas nas quais os pólos são iguais.
Nesse sentido, é preciso assinalar que muitos estudiosos abordaram a polaridade do
Bem e do Mal através da posição polarizada patriarcal, na qual os opostos se relacionam
exclusivamente em oposição. Um grande exemplo dessa abordagem é a teoria de Eros e
Tanátos, de Freud, na qual a vida e a morte e o Bem e o Mal se relacionam de maneira
exclusivamente oposta. Racionalmente, essa proposta é perfeitamente lógica e inteligível,
mas ela não explica existencialmente a fenomenologia da interação da polaridade. Assim,
sua ontologia paradoxal que inclui a polaridade do Bem e do Mal na centralização unitária do
Arquétipo Central, só pode ser devidamente estudada através do Arquétipo da Alteridade.
Em inúmeras passagens de sua obra, Jung ocupou-se em conceituar a Sombra e
incluir o Mal na totalidade do Self, mas teve muita dificuldade de articulá-lo psicologicamente
com o Bem. Quando se ocupou da teologia católica, enfatizou sua discordância da doutrina
do Summum Bonum (Deus é absolutamente bom) e do Privatio Boni (o Mal é a privação do
Bem), por achar que ela exclui o Mal da divindade.
Por isso, ao criar o conceito de símbolo na Psicologia Simbólica Junguiana como
símbolo estruturante, nele incluí todas as polaridades, inclusive o subjetivo e o objetivo, o
Bem e o Mal. Nesta teoria, reuni o conceito de arquétipo da psicologia analítica com o de
fixação e de defesa da psicanálise.
Descrevi também o processo de elaboração simbólica, como o centro da atividade
psíquica que, quando normal, transforma os símbolos, funções e sistemas estruturantes
para formar a Consciência, mas que, quando sofre fixações, gera as defesas, a Sombra e o
Mal.
Desta maneira, podemos incluir o Mal no conceito do Arquétipo Central dentro de um
paradoxo no qual ele é tanto o Bem quanto o Mal. Conceituo o paradoxo como uma
afirmação contraditória que, tanto pode incluir um erro, quanto expressar uma verdade maior
que inclui uma contradição.
A dimensão espiritual é geralmente associada com os mitos e as religiões, que são
baseados principalmente em vivências subjetivas e explicam a vida e o mundo, e nos quais
as pessoas se baseiam para orientar-se moralmente. A vida espiritual é também associada
com a religiosidade, que é a busca de significados maiores para explicar a vida além das
aparências, ou seja, através da dimensão simbólica.
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É dentro da religiosidade que devemos compreender a espiritualidade na teoria e na
psicoterapia junguiana, pois, sendo ela conceituada na perspectiva arquetípica, ela
considera os eventos existenciais baseados numa vivência simbólica que os relaciona com o
processo de individuação e de humanização além do seu contexto literal. Assim sendo,
postula-se que os símbolos buscam prospectivamente a totalidade do Self, em função de um
arquétipo coordenador da elaboração simbólica, que chamamos de Arquétipo Central.
Espiritualidade, na psicologia junguiana é, então, a busca de um relacionamento das
vivências com o Arquétipo Central, chamado de Deus nas religiões. Quando esses símbolos
são positivos e produtivos, ou seja, “bons”, temos mais facilidade em fazê-lo, mas quando
eles são negativos, destrutivos, isto é, “maus” temos muitas resistências, pois é difícil
relacionar nossa busca de totalidade com a presença do Mal.
A compreensão que a Sombra e o Mal fazem parte do Arquétipo Central é essencial
para buscarmos o significado simbólico dos sintomas. Caso contrário, por que não seguir o
caminho de procurar eliminá-los sumariamente através da medicação ou do
descondicionamento cognitivo-comportamental? Esclareço que não sou contra a medicação
nem o descondicionamento, mas condeno o seu emprego autônomo e alienante sem
buscarmos junto com eles compreender e elaborar os significados dos sintomas dentro do
processo de individuação e de humanização.
Procurar o significado de uma fixação ou de uma defesa é simbolizar aquilo que está
paralisado como sintoma, como algo ruim, e perceber um significado maior, ou seja,
espiritual, para ele no processo existencial. Quando não o conseguimos e concluímos que a
vida é ruim porque inclui o Mal, como fez Jó, perdemos a espiritualidade e o sentido maior
da existência. Essa busca às vezes é muito difícil porque, freqüentemente, o sofrimento dos
sintomas, dos traumas e das frustrações é tão grande que o que mais queremos é nos
livrarmos deles ou os esquecermos, e a última coisa que desejamos é compreendê-los.
Quando expressamos a verdade através de um paradoxo criativo é porque os pólos
de uma polaridade estão relacionados de uma forma tão ambígüa e complexa que somente
o paradoxo pode expressá-la. Nesse caso, precisamos amplificar os pólos da polaridade de
maneira detalhada e ampla para que sua relação se torne compreensível.
No caso do Arquétipo Central, ele não é só um paradoxo porque expressa o Bem e o
Mal, mas também porque tem a capacidade de resgatar os símbolos que estão sendo
expressos dentro do Mal e elaborá-los criativamente dentro da busca da individuação, ou
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seja, no caminho do Bem. Nesse caso, o Arquétipo Central se aproxima do famoso
paradoxo socrático: “Ninguém faz o Mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a
sabedoria e a virtude são inseparáveis.”
O Arquétipo Central expressa o Bem, com a elaboração por ele coordenada para
formar a Consciência e expressa também o Mal, com a fixação, as defesas e a Sombra
constituídas durante a elaboração. Esta ambigüidade do Arquétipo Central advém da
necessidade de ele manter os símbolos mesmo fixados, para preservar a integridade do
Self. Desta maneira, o Arquétipo Central exerce e compactua com o Mal, porque coordena a
elaboração simbólica apesar de suas fixações e as mantém quando atua as defesas na
Sombra. Podemos dizer mesmo, que o Arquétipo Central coordena também a resistência e a
compulsão de repetição das defesas, o que agrava sua participação no Mal.
Compreendemos, porém, que o Arquétipo Central assim o faz porque não pode prescindir
dos símbolos que estão fixados e na Sombra, mesmo quando possuem um alto grau de
destrutividade, como, por exemplo, em muitos casos de defesas psicopáticas graves e até
mesmo de defesas psicóticas.
Quando o Arquétipo Central atua o Mal, ou seja, a Sombra, instala-se a culpa dentro
do sofrimento do Self, seja devido a ela afrontar o Superego ou moral coletiva, seja devido a
ela atuar a divisão do Self e infringir a função estruturante da ética no processo de
desenvolvimento. Nestas duas perspectivas, a atuação do Mal traz uma disfunção
existencial que atinge o Outro em geral e recai sobre o Ego em particular. Mesmo que a
atuação da Sombra seja através de uma projeção defensiva, em algum momento ela se
voltará sobre o Ego, cuja função, de enfrentar o Mal, também é coordenada pelo Arquétipo
Central.
A coordenação do Arquétipo Central na expressão do Mal é muito complexa porque
abrange toda a variedade das defesas. Sabemos, por exemplo, da grande versatilidade das
defesas dissociativas ou histéricas. Essa criatividade, como toda aquela inerente à atividade
psíquica, advém da função estruturante da imaginação que, como todas as funções
estruturantes, têm características conscientes e inconscientes, normais e defensivas. É
surpreendente, então, mas parece irrefutável constatar como o Arquétipo Central expressa o
Mal através dessa exuberante criatividade que também expressa a Sombra pela
imaginação.
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Desta maneira, fecha-se o ciclo e compreende-se que o duplo paradoxo no qual o
Arquétipo Central atua o Bem e o Mal e depois coordena a reintegração dos símbolos do
Mal no caminho do Bem. Tal fato nos faz acrescentar ao duplo paradoxo do Arquétipo
Central uma característica messiânica de resgate do Mal e de redenção do Self no processo
de individuação e de humanização.
Muito Obrigado.


3 comentários:

Anjo disse...

Lindo blog.

Jung...foi por causa deste cara...ou melhor por causa da grade das faculdades que infelizmente não dão tanto valor pros seus ensinamentos que abondonei o curso de psicologia e fui estudá-lo por conta própria.

"É melhor ser inteiro do que ser bom." Jung.

Abraço fraterno.
Com Amor Leonardo.

zen dicas disse...

Olá Anjo.. Leonardo.

Concordo plenamente com suas palavras!
Parabéns pela atitude!!!
Viva O Agora!
Namaste.
Z.D&M.

zen dicas disse...

P.S.
OBRIGADA PELO ELOGIO..

SEJA SEMPRE BEM VINDO !!!

QUERIDO ANJO.. LEONARDO.

VIVA O AGORA!
NAMASTE.
Z.D&M.